MANTENHO A OPINIÃO
Faz hoje oito dias.
Esta história aconteceu no domingo passado.
Uma corrida que ficou até hoje à espera para chegar ao fim.
Todas as corridas chegam ao fim.
Depois, embora gostasse, a minha vida não é isto.
Há que dar tempo ao tempo mas, um post de um amigo, que está em Cabo Verde de férias, no qual está uma fotografia, com uma chávena de café, um copo e o blog do Gato aberto no smartphone fez com que viesse terminar a corrida.
Durante toda a semana que antecedeu o Onyria Running Challenge, muito se falou sobre o cancro, nas redes sociais.
Nas redes sociais todos nós temos opinião sobre tudo e até temos opinião sobre nada.
Ainda bem.
Li aqueles que sofreram com o cancro, li aqueles que tornaram o tema num facto político, li aqueles que se indignaram, porque sim e porque não.
A minha opinião não é relevante. Cada vez relevo menos a minha opinião.
Tenho os meus próprios temas fracturantes e tenho que viver com eles.
Sim, também tenho pessoas de quem gosto muito que já tiveram, que ainda têm cancro. Eu, em Dezembro, também tive que retirar um tumor e, isso obriga-me a olhar para uma fotografia de jornal e a ter que ter opinião?
Não. Mas, isso sou eu. Nem sequer ter pessoas de quem gosto que tiveram ou têm cancro me legítima a ter opinião.
Aprendi, nos últimos tempos, a não ter opinião sobre tudo.
Obriga a um exercício de contenção extremamente difícil, mas é possível de realizar.
Não me leram uma linha sobre a aparição da mulher do primeiro-ministro em público.
Na verdade, quem me lê até leu uma linha, sim.
Publiquei um post que dizia mais ou menos isto: "como todos temos opinião sobre o cancro, que tal juntarem-se à Onyria Running Challenge 2015. Ter opinião ajuda mas, ajudar mesmo, ajuda muito mais".
Não sei se alguém se levantou como eu, às sete da manhã, fez uma porrada de quilómetros, gastou gasóleo, pagou portagens a peso de ouro e foi correr. Correr pelo Rafael. Correr com o Rafael.
Eu não conheço o Rafael, por outro lado, conheço-o, só que ele não sabe e eu também nunca estive com ele. Até domingo passado.
Nem sequer o vi ou ele a mim.
Como escrevo sobre todas as corridas em que participo, tenho por hábito ler qualquer coisa sobre as corridas, antes de as correr.
A história daquela manhã de domingo é simples, bonita. Principalmente bonita.
É a história do Rafael.
E começa assim: